domingo, 15 de setembro de 2013

4o Bimestre / É oficial: a Voyager 1 saiu do Sistema Solar

É oficial: a Voyager 1 saiu do Sistema Solar

A Nasa confirma que a sonda encontra-se em espaço interestelar desde agosto de 2012

por Luciana Galastri

Editora Globo
Conceito de artista mostra a Voyager 1 deixando a heliosfera para trás // Crédito: Divulgação NASA
A Voyager 1 tornou-se, oficialmente, o primeiro objeto feito por humanos a se aventurar em espaço interestelar. A sonda de 36 anos de idade encontra-se, atualmente, a uma distância de 19 bilhões de quilômetros do Sol.
Recentemente, o fato da Voyager estar ou não fora do Sistema Solar se tornou uma polêmica entre cientistas (leia mais aqui), e, até então, a Nasa não havia confirmado o fato. No entanto, uma análise feita por cientistas da Universidade de Iowa, publicada nesta quinta-feira, dia 12 de setembro, na revista Science, forneceu os dados que comprovam que a sonda já ultrapassou os limites da influência solar.
"Agora que temos os dados podemos responder à pergunta que todos nós estávamos fazendo: já estamos lá? Sim, já estamos", declarou um dos cientistas do projeto Voyager, Ed Stone, baseado no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena.
Para chegar à conclusão foram analisados dados desde 2004, quando a Voyager 1 detectou um aumento na pressão interestelar na heliosfera (imagine uma bolha de partículas carregadas ao redor do sol que engloba os planetas do Sistema Solar). Como a sonda não tem um sensor de plasma, cientistas precisaram pensar em formas diferentes de medir o ambiente em que ela se encontrava para determinar sua localização. Essas informações foram obtidas em abril de 2013, graças a uma explosão de ventos solares que havia acontecido 13 meses antes, em março de 2012 - detectada pela sonda mais de um ano depois.
Quando essa emissão chegou à sonda, ela começou a vibrar - e foi essa vibração que tornou possível a medição da densidade do plasma ao seu redor. Como os cientistas notaram, pelas oscilações, o plasma ao redor da Voyager era 40 vezes mais denso do que o encontrado na camada mais distante da heliosfera. Cálculos demonstraram que a sonda saiu do sistema solar no dia 25 de agosto de 2012.
A sonda
A Voyager 1 e sua irmã gêmea, a Voyager 2, foram lançadas em 1977. As duas sondas passaram por Júpiter e Saturno e a Voyager 2 visitou os arredores de Urano e Netuno. Desde a década de 1970, a Nasa monitora continuamente a atividade dos dois veículos - mesmo que, atualmente, o sinal recebido por eles seja muito fraco: 23 watts, comparável a uma lâmpada de geladeira. Quando chegam na Terra, os sinais são uma fração da bilionésmia parte de um watt. Transmitidos a uma frequência de 160 bits por segundo, na velocidade da luz, o sinal da Voyager 1 chega a Terra após uma viagem de 17 horas.
O custo da missão Voyager, desde seu lançamento, é de 998 milhões de dólares.

COMENTÁRIO:
Gostei muito de ler esta reportagem, pois os assuntos relativos ao universo me encantam e fascinam. Saber que a Voyager está fora do sistema solar, que está viajando desde 1977 é, no mínimo, sensacional. Entender o modo como os cientistas capturam o sinal da sonda  foi importante pra mim, pois eu não sabia e quebrava a cabeça tentando imaginar. Todos nós deveríamos ler sobre a imensidão do Universo, pois, assim, perceberíamos como somos pequenos e seríamos mais simples e menos arrogantes.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Norte e Nordeste receberão 91% dos médicos cubanos- 3o Bimestre

Norte e Nordeste receberão 91% dos médicos cubanos

O restante dos profissionais da ilha ficará no Sudeste e Sul do país, segundo Ministério da Saúde. Distribuição dos profissionais se deu por IDH das cidades

Marcela Mattos, de Brasília
Médicos cubanos chegam à Recife para integrar o programa do governo federal.
Médicos cubanos chegam à Recife para integrar o programa do governo federal. ( Matheus Brito/ Estadão Conteúdo )
As regiões Norte e Nordeste do país receberão 364 dos 400 médicos cubanos que vieram para o Brasil na primeira fase do programa Mais Médicos do governo federal. O número equivale a 91% dos profissionais, informou nesta terça-feira o Ministério da Saúde. O restante dos profissionais seguirá para Sul e Sudeste. Por ora, nenhum médico cubano vai aturar no Centro Oeste do país.
No Nordeste, 201 cubanos prestarão atendimento nas unidades básicas de saúde em municípios da região – e seis em distritos indígenas. Já o Norte terá 123 profissionais de Cuba atuando nos municípios e 34 em distritos indígenas. No Sudeste, 27 dos trinta cubanos alocados na região atenderão em Minas Gerais. E os seis profissionais enviados ao Sul do Brasil trabalharão no Rio Grande do Sul.
De acordo com o Ministério da Saúde, a distribuição dos profissionais foi feita de modo a priorizar cidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Dos municípios que receberão os doutores cubanos, treze registram IDH muito baixo e 133, baixo. O governo, contudo, alocou cubanos em nove cidades com alto IDH. Nesse caso, a justificativa é beneficiar as regiões pobres e carentes de médicos nesses municípios.
Até o final deste ano, o Brasil receberá 4 000 médicos cubanos, que serão distribuídos em 701 municípios, segundo acordo fechado entre o governo e a Organização Panamericana de Saúde (Opas). Os profissionais oriundos da ilha dos Castro são submetidos a condições diferenciadas dos demais médicos estrangeiros que integram o programa no Brasil: além de não trazerem consigo a família, receberão apenas uma parcela dos 10 000 reais pagos aos profissionais que atendem pelo Mais Médicos – o restante do dinheiro fica com a ditadura cubana. Além disso, os cubanos têm restrições para deixar os alojamentos onde estão hospedados no país.
Brasileiros – O primeiro dia de trabalho dos brasileiros que participam do programa foimarcado por faltas e desistências na segunda-feira. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que ainda não foi feito um balanço dos faltosos, e buscou justificar a baixa adesão com a necessidade de importar médicos estrangeiros. Ao todo, 1 096 profissionais haviam feito o cadastro no programa para trabalhar em 454 municípios e 16 distritos de saúde indígenas. As secretarias estaduais terão de informar se os médicos se apresentaram ou justificaram o atraso no início do atendimento à população. Se os profissionais não comparecerem até o próximo dia 12, serão excluídos do programa. 
“A ausência só revela uma drama que os municípios têm quando fazem um processo de seleção pública e reforça a estratégia de estimular profissionais a trazer médicos de outros países. Só estamos conseguindo preencher vagas de médicos em regiões de baixo IDH por causa da cooperação que fizemos com Cuba”, afirmou Padilha. "Se for um boicote, é de uma perversidade quase inimaginável. Todos os filtros foram feitos para garantir a participação de quem realmente tinha interesse. Se algum profissional só homologou o cadastro só para ocupar vaga, é de muita perversidade", continuou.  
Segunda fase - Balanço divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que 514 municípios se inscreveram na segunda etapa do Mais Médicos. Os pedidos foram enviados para a pasta até sexta-feira passada. Juntas, as cidades solicitaram 1 165 profissionais. Na primeira fase, 3 511 municípios se candidataram, solicitando 15 460 profissionais. Agora, são 4 025 as cidades participantes do programa - o que acarreta a necessidade de contratação de 16 625 profissionais.


Para a segunda fase do programa, 3 016 profissionais – 1 414 com diplomas no Brasil e 1 602 formados no exterior, de 65 nacionalidades – se inscreveram. Eles terão até a próxima quarta-feira para indicar os municípios onde desejam atuar e, entre os dias 6 e 9 de setembro, para finalizar o processo de homologação. As vagas remanescentes, a serem preenchidas pelos estrangeiros, serão divulgadas no próximo dia 13. 

COMENTÁRIO:
Pedi aos meus pais que me explicassem esse programa do governo, o "Mais médicos". Eu não estava entendendo muito bem. Depois da explicação eu entendi,mas continuei confusa. Os médicos trabalharão em locais que tem condições de atendimento? Será, que tendo os médicos cubanos, vão melhorar os postos de saúde e os hospitais? Acho que não. Também fico imaginando, como dever a vida em Cuba, deve ser muito ruim, pois quem vai receber o salário dos médicos, é Cuba, e os cubanos vão continuar a receber o salário que recebiam lá. Penso que vão viver aqui com muito pouco dinheiro. Achei todo esse programa, tão estranho...O certo seria o governo melhorar os locais de atendimento dos médicos e só depois contratar os cubanos. Talvez, nem precisassem, já que os locais estariam melhores e os brasileiros poderiam trabalhar.

Estudo mostra que Ricardo III estava infectado por vermes- 3o Bimestre

Estudo mostra que Ricardo III estava infectado por vermes

Pesquisadores encontraram ovos de "Ascaris lumbricoides", parasita conhecido como lombriga, no intestino do monarca

O esqueleto de Ricardo III
Esqueleto de Ricardo III, encontrado em um estacionamento de Leicester, no centro da Grã-Bretanha (Universidade de Leicester/Divulgação)
Um novo estudo dos restos mortais do rei britânico Ricardo III, encontrados no ano passadoem um estacionamento de Leicester (centro da Grã-Bretanha), mostra que o monarca possuía uma infecção intestinal. Pesquisadores das universidades de Cambridge e de Leicester, na Inglaterra, chegaram a esta conclusão depois de analisar amostras de solo retiradas de onde ficava a bacia e o crânio do rei. O estudo foi publicado nesta quarta-feira no periódico The Lancet.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The intestinal parasites of King Richard III

Onde foi divulgada: periódico The Lancet

Quem fez: Piers D. Mitchell, Hui-Yuan Yeh, Jo Appleby e Richard Buckley

Instituição: Universidades de Cambridge e de Leicester, ambas na Inglaterra

Dados de amostragem: Amostras de solo do local onde o esqueleto de Ricardo III foi encontrado

Resultado: Os pesquisadores encontraram ovos de Ascaris lumbricoides na região do intestino do moncarca, o que indica que ele estava infectado pelo verme.
Os resultados indicam a presença de diversos ovos de vermes nos intestinos do monarca. No entanto, havia uma pequena quantidade de ovos no solo onde estavam as demais partes do corpo. Isso indica que se trata de uma infecção intestinal e não de uma contaminação posterior.
Os ovos encontrados pertencem ao vermeAscaris lumbricoides, conhecido popularmente como lombriga. A infecção por este parasita é denominada ascaridíase e pode causar enjoo e dor abdominal, entre outros sintomas, quando a quantidade de vermes presentes no organismo é elevada.
A contaminação pelo Ascaris lumbricoidesocorre por meio da ingestão dos ovos do parasita, que podem estar presentes em legumes e frutas crus que entraram em contato com fezes infectadas. Os ovos eclodem no intestino, liberando as larvas no organismo, que atravessam a parede intestinal, chegando ao fígado e aos pulmões por via sanguínea e, finalmente, subindo pela garganta. Eles são deglutidos e voltam a descer pelo tubo digestivo, onde terminam seu desenvolvimento.
A infecção, relacionada à falta de higiene na Idade Média, ainda é frequente em países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), formas graves de ascaridíase causam 60.000 mortes ao ano, principalmente entre crianças.
Estilo de vida — As análises não detectaram a presença de outros parasitas, como a tênia (nome comum dado aos vermes das ordens Pseudophilidae e Ciclophylidae), que é transmitida por meio do consumo de carne mal cozida. Para os autores, isso indica que a comida do monarca era cozida ao ponto, o que teria evitado a transmissão destes parasitas. “Apesar da origem nobre de Ricardo, parece que seu estilo de vida não lhe deixava imune a uma infecção intestinal causada por um parasita, algo muito normal em seu tempo”, afirma a pesquisadora Jo Appleby, que participou do estudo.
Os pesquisadores acreditam que o rei teria morrido em 1485, com armas nas mãos, durante a batalha de Bosworth Field, perto de Leicester. Sua morte encerrou a Guerra das Rosas, mas seu corpo nunca havia sido encontrado. Após a descoberta da ossada, cientistas concluíram, a partir de marcas observadas em seu crânio, que Ricardo III poderia ter morrido com golpes na cabeça.
Reputação — Ricardo III é um dos reis medievais mais conhecidos, devido à obra homônima de William Shakespeare, que retrata o monarca como um tirano corcunda que matou os dois sobrinhos que impediam seu acesso ao trono britânico — o que rendeu a ele uma péssima reputação histórica.
(Com Agência France-Presse e Efe)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Após denúncias de espionagem, Dilma se encontra com Obama- 3o Bimestre.

Após denúncias de espionagem, Dilma se encontra com Obama

Planalto e Casa Branca confirmaram a conversa entre os líderes, mas não deram detalhes sobre o conteúdo

REDAÇÃO ÉPOCA, COM AGÊNCIAS
05/09/2013 20h34 - Atualizado em 05/09/2013 21h07
 
 
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A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, senta ao lado do presidente americano Barack Obama durante a reunião do G20 em São Petersburgo, na Rússia, nesta quinta-feira (5) (Foto: AP Photo/Pablo Martinez Monsivais/Pool)
O Palácio de Planalto e o serviço de imprensa da Casa Branca confirmaram o encontro da presidente Dilma Rousseff com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a oitava cúpula do G20, iniciada nesta quinta-feira (5) na Rússia. Segundo a Casa Branca, ele ocorreu entre a reunião plenária do G20 e o jantar oferecido aos líderes mundiais pelo governo da Rússia. 
Não há detalhes sobre a pauta do encontro, mas a conversa era esperada após denúncias de que os americanos espionaram brasileiros, entre eles a própria presidente. No último fim de semana, reportagem doFantástico, da TV Globo, revelou documentos mostrando que a Agência Nacional de Segurança monitorou conversas entre Dilma e seus principais assessores. 
Encerrada a cerimônia de boas-vindas do G20, líderes das 19 maiores economias mundiais participaram da primeira reunião de trabalho. Depois, se dirigiram ao Palácio Grand Peterhof, em São Petersburgo, onde o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ofereceu um jantar aos chefes de Estado. 
Durante a movimentação dos chefes de Estado na área destinada ao jantar, imagens do circuito interno de televisão do G20 mostraram os líderes participantes caminhando nas proximidades do local do evento. Mas não foi possível ver a presidente brasileira nem o mandatário norte-americano, que poderiam estar reunidos neste momento.   
Os governos americano e brasileiro não deram detalhes sobre a conversa. Antes, Ben Rhodes, vice-assessor de segurança para comunicações estratégicas da Presidência americana, disse que Obama buscaria fazer com "que os brasileiros tenham um melhor entendimento sobre o que fazemos e o que não fazemos”.
As revelações de espionagem causaram mal-estar na relação bilateral e colocaram em dúvida a visita que Dilma deve fazer aos Estados Unidos em outubro. Nesta quinta-feira, o Planalto confirmou o cancelamento da ida a Washington, no sábado, de uma equipe que faria os preparativos da viagem. 
Denúncias de espionagem
Nos últimos meses, o ex-técnico americano Edward Snowden, que trabalhou para a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), tornou público que o governo americano havia desenvolvido o maior programa de monitoramento em massa de comunicações de que se tem conhecimento no mundo.
Com a colaboração do jornalista americano Glenn Greenwald, a quem Snowden repassou os documentos sigilosos, no final de julho, ÉPOCA revelou com exclusividade arquivos que mostram que a NSA espionou oito membros do Conselho de Segurança da ONU, no caso das sanções contra o Irã, em 2010.
Em seguida, ÉPOCA teve acesso a uma carta ultrassecreta em que o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon Jr., agradece o diretor da NSA, general Keith Alexander, pelas “excepcionais” informações obtidas numa ação de vigilância de outros países do continente, antes e depois da 5ª Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, em abril de 2009.
Shannon celebra, no documento, como o trabalho da NSA permitiu que os EUA tivessem conhecimento do que fariam na reunião os representantes de outros países. Em entrevista a ÉPOCA, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que manter dados em segredo faz parte do jogo diplomático, mas que a espionagem em negociações pode configurar uma forma de fraudá-las. "Estamos diante de um escândalo de proporções globais."
Na noite do último domingo, 1º de setembro, novas denúncias sobre espionagem do governo dos Estados Unidos vieram à tona. Desta vez, documentos secretos da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, aos quais o Fantástico teve acesso com exclusividade, apontam que a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores foram alvo de espionagem.  

COMENTÁRIO:
Eu não acho certo os EUA espionarem todos, mas acredito sim, que espionaram o Brasil. Se nós, simples cidadãos, conseguimos ver ruas, casas tão detalhadamente, através do Google Earth, imagina o que os EUA não vêem? Penso que, talvez, saibam até o que escrevemos nos nossos e-mails... ok, talvez nos nossos não, mas de pessoas importantes e governantes, eu acredito. Quem os EUA pensam que são? Mas são a maior potência mundial e, se o Brasil fosse essa potência, talvez fizesse o mesmo.

Terapia de choque para curar vício em Facebook - 3o Bimestre

Terapia de choque para curar vício em Facebook

A técnica foi batizada de "Pavlov Poke" (cutucada de Pavlov), em homenagem ao cientista russo que treinava cães através de choques

por Luciana Galastri

Editora Globo
Dois cientistas do MIT, Robert Morris e Dan McDuff, estavam frustrados com o tempo que eles gastavam no Facebook. Durante uma semana, os dois, combinados, passavam 50 horas na rede. E, para aproveitarem melhor seu tempo e perder o hábito, eles resolveram criar uma terapia de choque - literalmente.
Inspirados por Ivan Pavlov, fisiólogo russo que estudava o comportamento dos animais através de choques, condicionando-os a uma determinada ação, eles criaram o "Pavlov Poke". A ideia é que, a cada período de tempo 'perdido' em redes sociais ou em sites de entretenimento, o usuário leve um choque. A descarga elétrica não é grande o suficiente para ser perigosa, mas ela, de acordo com os cientistas, é definitivamente desagradável. Isso condicionaria o cérebro do internauta a associar o Facebook com a sensação ruim - e, logo, evitá-lo.
Editora Globo
O resultado foi que, depois de usar a técnica em si mesmo, Morris afirma que não deixou de acessar a rede, mas o tempo que passa lá agora é bem menor. "Depois de alguns choques esses comportamentos automáticos foram reprogramados. Eu não visito o site a não ser que eu realmente queira. Eu ainda visito, mas não sou levado até ele por uma compulsão misteriosa", escreveu o cientista em seu blog. Mesmo assim, ele esclarece que não espera que o método se popularize e que o concebeu como uma piada do que como uma intervenção legítima.
Confira a demonstração:
Além do Pavlov Poke, os dois criaram outro método menos dolorido (mas nem por isso menos violento) para diminuir o vício em Facebook. Se o usuário excede o tempo limite de uso do Facebook, uma pessoa contratada especificamente para isso é notificada pelo sistema, liga para o viciado e grita com ele até ele sair da rede. Sutil.
Você usaria um método desse para aumentar sua produtividade? Ou indicaria um amigo viciado em redes sociais para participar de um experimento do tipo?

COMENTÁRIO:
Achei a idéia meio ridícula, mas parece que funciona. Não sei se sou viciada em facebook, mas me conecto pelo menos uma vez ao dia. Como temos internet no celular 24 horas por dia, fica mais fácil a conexão e o vício, se for o caso. Acho que o hábito de se conectar ao Facebook, diariamente, é por causa da necessidade que a maioria das pessoas tem de se relacionarem e saber como vão todos que conhecem. Como o número de atividades diárias das pessoas aumentaram, fica mais fácil se relacionar pelo Facebook. Sabe-se de uma notícia em segundos e uma foto pode ser compartilhada para milhares de pessoas em poucos minutos. Acho prático e útil, apesar de muitos falarem que é uma forma de se fazer fofoca e saber da vida alheia. Mas, eu também acho, que se conecta, quem quer, não é? Ainda não vi motivos para levar choque, e espero não ter que instalar este dispositivo no futuro.

SONHOS- TERAPIA NOTURNA. 3o Bimestre.


Sonhos

Sonhos resolvem problema práticos, estimulam a criatividade e, sozinhos, já servem como uma terapia noturna

por Alexandre Versignassi
Imagine dois pontinhos. Agora, que você está acordado, eles vão ser só dois pontinhos mesmo. Mas no sono profundo é diferente. Se uma parte do cérebro imagina isso, outra área fica inspirada e cria um par de olhos. Mais outra pega e coloca esses olhos numa face. Se o rosto sair feio, a área mais burra da mente se assusta. E solta um comando mandando você correr. Começa o enredo de um sonho. Louco, mas a realidade não é muito mais sã. Pense em alguma coisa estúpida. "Martelo", por exemplo. Não existe nenhum lugar na sua cabeça com a definição da palavra "martelo". Tudo o que há é um mosaico de referências: a dor no dedo depois de uma martelada infeliz, a imagem da caixa de ferramentas do seu avô... Elas só se juntam de vez em quando para formar uma ideia sólida, igual acontece com os tijolos mentais que constroem os sonhos. A realidade e o sonhar, na verdade, se completam. E a ciência está descobrindo que uma não existe sem a outra. Vire a página para saber o que os sonhos realmente são. Isso se você não estiver sonhando neste momento. 

Você tem 3 vidas paralelas. Uma é esta aqui, de quando você está acordado. Outra é o sono. O sonho é a terceira: duas horas por noite em que o corpo está paralisado, mas algumas áreas do cérebro ficam mais aceleradas do que o normal. Só que de um jeito diferente: de dia, a parte do cérebro que mais trabalha é o gerentão da mente: o córtex pré-frontal, o setor de massa cinzenta logo atrás da sua testa responsável pelo pensamento racional. No sonho é o contrário: essa área apaga e o resto funciona a toda. 

Para entender melhor, pense no cérebro como uma escola. De samba. São várias áreas (ou alas, no caso) fazendo tarefas diferentes. Na vida acordada, cada uma faz seu trabalho bonitinho, sob o comando do córtex pré-frontal. Mas à noite é anarquia pura. Livres do controle da gerência, áreas que nunca interagem de dia começam a trocar informações feito loucas. Tipo: passistas da ala das memórias antigas se embrenham na do córtex visual (a parte que processa imagens). Nisso as memórias incitam a produção de um cenário do passado. E você pode sonhar com um lugar bonito para onde foi aos 6 anos de idade. Depois gente de outra ala, a das emoções profundas, aparece por lá. Aí o amor da sua vida pipoca naquela paisagem. E a festa na sua cabeça vai entrando pela noite. Cada vez mais doida.

Chega uma hora que ninguém é de ninguém. Tudo fica misturado. Aí você pode sonhar que seu escritório fica num barco, e que esse barco navega numa avenida. Quer sair voando? Beleza. Nem o pensamento racional nem a gravidade estão lá para impedir. A memória de curto prazo, que depende diretamente do córtex pré-frontal, está desligada também. Então os rostos mudam o tempo todo, você não consegue ler direito... Até por isso seu avatar do sonho é sempre disléxico. 

Parece só uma farra mental. Mas não: os sonhos têm um propósito. E justamente o mais inesperado: eles tecem a realidade.

Como? Para começar, eles resolvem seus problemas. Foi o que concluiu um dos neurocientistas mais respeitados do mundo, Robert Stickgold, de Harvard. A base para isso foi uma experiência simples, feita neste ano. A equipe de Stickgold colocou 100 voluntários para andar num labirinto virtual, um daqueles 3D, de jogos tipo Counter Strike. O grupo foi posto para treinar as manhas do labirinto, aprender a navegar nele, por algum tempo. Depois deram um intervalo de 5 horas e chamaram o pessoal de volta para uma prova: ver quem conseguia achar a saída do labirinto mais rápido. Mas tinha um detalhe: os pesquisadores colocaram metade dos voluntários para tirar um cochilo de duas horas. O resto ficou acordado. Na volta, o time dos dormidos se deu ligeiramente melhor que o dos despertos - demoravam alguns segundos a menos para encontrar a saída.

Até aí, nada de mais. Mas veio uma surpresa. Entre os que foram dormir, alguns sonharam com o jogo. Esses tinham virado Ayrtons Sennas do labirinto: melhoraram seu tempo 10 vezes mais que os outros. Os cientistas ficaram eufóricos. Mais ainda depois de ler os relatos dos sonhadores. "O jogo me fez sonhar com uma caverna que visitei - e no sonho ela era tipo... tipo um labirinto", disse um. "Só ouvi a musiquinha do jogo no sonho", falou outro. Mas como isso pôde melhorar o desempenho deles?

Para Stickgold, essas imagens mentais eram apenas uma sombra do que o cérebro dos voluntários fazia de verdade. E o que ele fazia era processar o labirinto no meio da balbúrdia dos sonhos. No caso do rapaz que sonhou com a caverna, por exemplo, estava claro que o jogo se fundia às memórias antigas dele. Era como se a experiência nova, a de aprender a se virar no labirinto, estivesse entrando no meio da escola de samba desgovernada. 

Stickgold imagina que, quando o cérebro digere alguma experiência dessa forma, ele faz algo especial: extrai o que há de mais importante nessa experiência. Aí ela fica mais compreensível. E você aprende algo novo sem se dar conta. 

A conclusão é ambiciosa. Para o neurocientista, isso acontece com tudo o que o cérebro capta. Nada deixa de passar pela festa dos sonhos. É nela que peças do presente se encaixam com as do passado, formando a imagem mental que temos do mundo. Nessa imagem está tudo o que você sabe, do significado da palavra "martelo" até seus amores e traumas. 

Não há uma prova definitiva de que é assim mesmo que tudo funciona. Mas as experiências de laboratório indicam que sim. E as da vida real também. É comum, por exemplo, acordar com uma ideia nova. Prontinha. Já aconteceu com você? Com Paul McCartney aconteceu. Numa manhã de 1965, ele acordou com uma música na cabeça, foi para o piano e tirou a melodia. Ficou estarrecido. "Não acreditava que ela pudesse ser minha", disse. Era, sim. E acabou gravada com o nome de Yesterday. Coincidência uma obra onírica ter virado o maior sucesso comercial da maior banda da história? Talvez não. Satisfaction, a mais célebre dos Stones, também apareceu num sonho - de Keith Richards.

Mas ninguém teve sonhos tão célebres quanto outro sujeito: Freud, que escreveu sobre o assunto usando em grande parte os próprios sonhos como base. Apesar dos avanços da neurociência, suas ideias sobre o mundo onírico continuam respeitadas. Faz sentido? Sim. E não. 

A teoria de Freud: os sonhos são a manifestação de desejos reprimidos. Ponto. Vários sonhos, de fato, parecem ser isso mesmo. Se você está com sede, provavelmente vai sonhar que está bebendo água.

Mas o problema nela é óbvio. A maior parte dos sonhos não tem nada a ver com desejo. Uns são tão banais que não podem entrar nessa classificação. Outros são pesadelos. Alguém deseja morrer afogado por uma daquelas ondas gigantes de sonho? Ele sabia que não. Mas batia o pé: os desejos estariam quase sempre disfarçados. Sigmund explica: "Um dia falei para uma paciente, a mais inteligente das minhas sonhadoras, que os sonhos são a realização de desejos. No dia seguinte ela me contou ter sonhado que estava indo viajar com a madrasta", escreveu em seu A Interpretação dos Sonhos, de 1899. "Mas eu sabia que, antes, ela tinha protestado contra o fato de que teria de passar o verão na mesma vizinhança que a madrasta. De acordo com o sonho, então, eu estava errado. Mas era o desejo dela que eu estivesse errado, e esse desejo o sonho mostrou realizado." Acredite. Se quiser. 

Por essas boa parte dos pesquisadores de hoje prefere tratar Freud mais como literatura do que como ciência. A gente sonha com água quando está com sede? Usando as analogias deste texto, a explicação seria: o pessoal do sistema límbico foi até a ala do córtex visual e disse que seu corpo estava com sede. O córtex pegou e criou uma imagem que tem a ver com sede. Sem drama. O sonho da paciente inteligente? Bom, às vezes uma viagem de trem com a madrasta é só uma viagem de trem com a madrasta...

Mas alguns cientistas defendem que as pesquisas modernas confirmaram muito do que Freud pensava. Allen Braun, um neurologista célebre, faz uma defesa sólida: "O fato de as regiões do cérebro responsáveis pela memória emocional e de longo prazo ficarem supercarregadas enquanto as do pensamento racional repousam pode ser visto em termos freudianos como o ‘ego’ saindo do comando e dando liberdade ao inconsciente", diz. Mas ele também acha a teoria de Freud defasada. 

A interpretação moderna dos sonhos é mais complexa. Quem estuda a mente hoje olha com atenção para os detalhes do sonho de cada pessoa, sem correr atrás de interpretações genéricas. Usar símbolos universais, do tipo "sonhar com água significa x ou y", então, nem pensar. Isso seria subestimar o maior talento do cérebro sonhador : a capacidade de criar metáforas surpreendentes.

Ann Faraday, uma psicóloga americana especializada em sonhos, tem um bom exemplo dessa habilidade poética. Ela estava para ser entrevistada no programa de rádio de um certo Long John Nebel. Aí, na noite anterior, sonhou que um sujeito de ceroulas a ameaçava com uma metralhadora. Símbolo fálico, desejo sexual enrustido... Tem tudo aí. Mas não. A interpretação dela foi bem mais direta. Long John é "ceroula" em inglês, e o apresentador era conhecido por ser particularmente ferino. O sujeito de roupas íntimas, então, era uma metáfora que o cérebro dela arranjou para o nome do sujeito; e a metralhadora, uma para o medo que ela sentia de ser agredida na entrevista. Só isso.

E tudo isso. "Podemos aprender sobre as emoções que nos guiam na vida real se prestarmos atenção nos sonhos", diz o psiquiatra J. Allan Hobson, de Harvard. O exercício aí é tentar decifrar as metáforas dos sonhos, encontrar quais elementos da sua vida estão por trás delas - uma tarefa profunda e pessoal em que nenhum dos dicionários de sonhos já feitos desde a invenção da escrita vai poder ajudar. 

E nem sempre será fácil. A psicóloga americana Rosalind Cartwright, por exemplo, concluiu algo paradoxal com base em anos de estudos: que os rejeitados num relacionamento que mais sonham com o ex são os que se recuperam mais rápido do baque da separação. Isso casa bem com as pesquisas de Stickgold: talvez seja o cérebro maquinando formas de lidar com o rompimento, dando um jeito de aliviar a dor. Mas não dá para ter certeza, só especular. Ainda há certas coisas entre a vida real e os sonhos que estão além da ciência. Para começar, não dá nem para saber se você vai acordar daqui a pouco e descobrir que tudo isso foi um sonho. Mas ok. No fundo, dá na mesma.
A incepção 
Os invasores de sonhos do filme A Origem deixaram muitas pulgas atrás de muitas orelhas. Espante algumas 

Dá pra pôr ideias na mente alheia?
Sugestões bem dadas antes de dormir podem influenciar o sonho dos outros. Mas nada garante que forçar alguém a sonhar com um carro vai convencê-lo a comprar um, por exemplo. 

Dá pra sonhar em um sonho?
É o "falso espertar": você acha que acordou, mas ainda está dormindo. 

Dá pra morrer sonhando?
Dá, mas não pelo sonho, mas porque se morre dormindo.

Nossos traumas voltam nos sonhos?
Em fases difíceis, os sonhos recuperam nossas referências máximas de estresse. Para Leonardo DiCaprio em A Origem, era a esposa falecida; já veteranos sonham com a guerra. 

Existem sonhos coletivos?
Fora os do tipo Martin Luther King, só ficção científica mesmo.

Sonho dura mais que o sono? 
Apesar de o roteiro de A Origem discordar, o tempo do sonho é o mesmo do relógio. 

O que é a fase de sono REM? 
São as partes do sono em que o cérebro fica mais ativo do que de dia. É nelas que ocorre a maioria dos sonhos. REM é a sigla em inglês para um efeito colateral dessas fases: "movimento rápido dos olhos".

Só lembramos o fim dos sonhos?
Durante os sonhos, a serotonina, neuromodulador que controla a memória, não está presente. A tendência é lembrar só os sonhos do fim do sono, quando ela volta a ser produzida pelo nosso cérebro.

Quantos sonhos temos à noite?
Basicamente, é o número de fases REM: 4 ou 5 vezes por dormida. Eles começam curtos (3 a 4 minutos) e vão ficando maiores conforme a noite avança, chegando a quase uma hora no início da manhã. 

Por que nem todos se lembram dos sonhos?
Não é magia, é psicologia: lembra dos sonhos quem decidiu que eles valem a pena ser lembrados. Com motivação, quem esquece seus sonhos vai se lembrar deles - ao menos dos que surgirem no fim do sono.

Para saber mais 
The Mind at Night
Andrea Rock, Basic Books, 2004.

Dreaming
J. Allan Hobson, Oxford, 2002.


COMENTÁRIO:

Essa reportagem me esclareceu algumas dúvidas que eu tinha em relação aos sonhos. Por exemplo, eu não entendia porque não conseguimos nos lembrar de todo o sonho e porque não nos lembramos dele por muito tempo. Já tive um " falso despertar" e entendi que isso acontece mesmo. Achava que era só eu! Mas eu gosto de sonhar,  acordo feliz e quando vou dormir, às vezes fico pensando, com o que eu sonharei naquela noite e desejo que seja um bom sonho. Já sonhei com filmes de terror, fantasmas e perseguições, mas o que eu mais gosto é sonhar que estou voando. Muito bom!

O segredo das formigas - 3o Bimestre.

Ciência

O segredo das formigas

Elas já formavam a sociedade mais evoluída da Terra há cerca de 10 milhões de anos. São fortes, espertas e trabalham em grupo melhor que nós. Veja o que você pode aprender com as formigas

por Otávio Cohen
Olhando do alto, parece uma coisinha inofensiva. Nada de garras assustadoras, chifres ou mandíbulas enormes que outras espécies ostentam. É pequena demais (3 mm) e tem uma picada que causa, no máximo, reação alérgica. Mesmo assim, a formiga argentina é uma das pragas urbanas mais graves do planeta. Para entender, pare de olhar do alto.

No século 19, algumas formigas da margem argentina do rio Paraná pegaram carona em navios e desembarcaram em outros portos mundo afora. Bastou para o estrago estar feito. A formiga argentina não é uma boa vizinha. Pelo contrário, é competitiva e predadora em níveis méssicos (de Messi, o Lionel). Chegam, invadem casas, estressam famílias e disputam território com insetos maiores e mais sinistros. Resultado: elas estão em áreas costeiras de todo o mundo.

Em 2000, pesquisadores encontraram uma supercolônia gigante que ocupa todo o sul da Europa, estendendo-se por 6 mil quilômetros, de Portugal à Grécia (o litoral da Argentina, só para lembrar, tem 4,7 mil quilômetros). São milhões de ninhos diferentes e bilhões de operárias. "Conheço pelo menos cinco supercolônias, mas provavelmente há outras", diz Alex Wild, biólogo especializado nas argentinas. O sucesso desses países subterrâneos é a parceria. Enquanto formigueiros comuns travam disputas entre si, os da supercolônia não competem uns com os outros. É a maior unidade cooperativa do mundo. As supercolônias existem também nos Estados Unidos, no Japão e na Austrália. Por isso, é difícil encontrar uma formiga urbana que não seja a argentina, cientificamente conhecida comoLimepithema humile, em lugares tão distantes como Chile, Portugal e Califórnia. Lá, aliás, as argentinas dizimaram os lagartos-de-chifres, cuja população caiu pela metade depois que as invasoras fizeram sumir do mapa outras formigas que eles comiam. Essas formigas não passam batido. E são versáteis. "Como conseguem criar formigueiros rapidamente em diversos ambientes, as argentinas se estabelecem facilmente em novos lugares", diz Wild. E, para piorar, são resistentes aos inseticidas comuns, o que faz delas formigas quase invencíveis. Quase.

Foi em um parque na Carolina do Norte que as argentinas mostraram sua fraqueza. Segundo um estudo da universidade estadual local, a argentina ocupava, em 2008, 99% do parque, enquanto uma espécie chinesa estava em 9%. Três anos depois, as argentinas caíram para 67%. As chinesas começaram a reagir porque resistem mais ao frio. No inverno, ambas entram em um estado parecido com a hibernação. Mas a asiática volta à ativa antes, e é mais fácil conquistar território enquanto o inimigo dorme. As implacáveis argentinas podem ter encontrado seu General Inverno e uma possível derrota. Mas as formigas como um todo estão longe de perder no jogo da evolução.
Todas por todas
A colônia é um organismo só. E as saúvas exemplificam isso


Eficiência de formiga
Já dizia Macunaíma: "pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são". Numa coisa, o herói de Mário de Andrade estava certo: as 200 espécies do gênero Atta são o maior grupo de formigas do Brasil. E o mais complexo do mundo, com câmaras, galerias e túneis.

Câmara real

O formigueiro começa com uma rainha criada em outra colônia. Ela acasalou e procura um novo lar. Quando encontra o local, bota ovos. Depois, comanda a colônia. Se falta alimento, solta um feromônio para orientar as operárias responsáveis pela comida, por exemplo.

Quarto de despejo
As operárias se desenvolvem e põem ordem na casa. Cada formiga tem um papel, o que é a essência da eussocialidade (quando um grupo de insetos forma, na prática, um organismo só). As operárias cavam túneis e buracos, que serão as câmaras do formigueiro. Algumas são para guardar restos de folhas, cadáveres de outras formigas e até lixo.

Relação casual
A rainha cria tanajuras, novas rainhas em potencial, e bitus, os machos. Ambos saem em revoada em busca de parceiros. Depois da missão cumprida, o bitu morre. E menos de 1% das tanajuras consegue seu próprio ninho.

Bebês a bordo
Até 20 dias depois de saírem dos ovos, as larvas se transformam em pupas. Elas são bem parecidas com as formigas adultas, mas não andam nem comem. Este estágio pode ter várias fases e dura até dez semanas. As pupas de cada fase podem ser transportadas para câmaras específicas para se desenvolver.

Lanchonete

As saúvas cortam folhas, mas são incapazes de comê-las a seco, então cultivam jardins de fungos no formigueiro (é por isso que elas carregam as folhas, e não comem na nossa frente). Os fungos digerem a celulose e eliminam outras substâncias das folhas que fazem mal às formigas. Depois, são esses fungos que servem de comida para as saúvas. Ou seja, elas são grandes agricultoras.

São mais de 14 mil espécies de formigas


- Estima-se que haja outras 15 mil ainda não catalogadas.
- 1/5 de toda a biomassa animal da Terra é composto por elas
- Existem 10 quatrilhões de formigas por aí. Mais de 1,5 milhão para cada ser humano


Quem é quem no formigueiro

OPERÁRIAS CORTADEIRAS (2 MM)

Responsáveis pela coleta de matéria-prima para o almoço. Formam aquelas filas enormes de formigas carregando pedacinhos de folhas.

OPERÁRIAS SOLDADOS (3 MM)
Estão sempre a postos nas saídas do formigueiro. Se for preciso, defendem a colônia de outros insetos e formigas rivais.

RAINHA (5 MM)
Passa até 20 anos botando ovos e controlando todo o formigueiro. Quando morre, o formigueiro se dissolve.

OPERÁRIA GENERALISTA (1,5 MM)

O serviço doméstico fica por conta delas. Além de cuidar dos ovos e das pupas, elas limpam os ninhos.

LARVAS E PUPAS (ATÉ 1 MM)

A larva passa três semanas comendo às custas das operárias. A alimentação define seu futuro: quanto maior ela ficar, mais chances de ser soldado, por exemplo.

BITUS (3 MM)

São os únicos machos. "Homens-objetos", nascem de ovos não fecundados da rainha, vivem poucas semanas e servem para ajudar a criar novas colônias.


Pensamento coletivo
Como elas pensam - e agem - melhor em grupo


PORTA DA ESPERANÇA
Em 2012, cientistas da Universidade do Estado do Arizona, EUA, desenvolveram oito formigueiros artificiais. Só metade tinha características apropriadas, como iluminação e tamanho ideais. As formigas precisavam escolher um formigueiro. Quando expostas sozinhas ao teste, elas escolheram os ninhos bons 50% das vezes. Já quando a colônia inteira teve de escolher, em todas as vezes elas foram para os ninhos habitáveis.

SEM FRESCURA À MESA

Manter uma dieta bem versátil também ajuda. "Elas podem explorar diferentes recursos de um ambiente sem limitação por especialização alimentar", diz o biólogo Rodrigo Feitosa, da USP. Significa que as formigas não são como os pobres lagartos-de-chifres da Califórnia citados no início da reportagem, que morreram quando os bichos que eles comiam foram exterminados. Se uma fonte de alimento acaba, elas se organizam para procurar outra sem deixar o formigueiro desprotegido.

COLETIVIDADE

Em organismos eussociais, como formigas, são as características da colônia que são transmitidas às futuras gerações. Ou seja, o conceito de evolução se aplica ao coletivo, não ao individual. As formigas que não se reproduzem, como as operárias, têm mais tempo para se especializar em outras tarefas, como a busca de alimento e a defesa do ninho. Para os biólogos, essa capacidade de evoluir em grupo é um dos fatores que garantiram a sobrevivência das formigas por mais de 100 milhões de anos.

PARCERIA NA SIMBIOSE

Formigas têm relações simbióticas, ou seja, em que há vantagem para todos, com mais de 400 espécies de plantas, milhares de artrópodes, fungos e micro-organismos. Junto com as minhocas e os cupins, elas cumprem a tarefa de revolver o solo e enriquecê-lo com oxigênio. Até mesmo as formigas-cortadeiras, famosas por destruir folhas e flores, dão uma mão para a natureza. Os fungos que elas criam nos formigueiros servem de adubo para espécies de árvores como a embaúba, por exemplo.

7 MIL PAUZINHOS E UMA CANOA

Para não se afogar nas áreas inundáveis da Amazônia, formigas-de-fogo (ou lava-pés) juntam forças e formam um bote improvisado com seus próprios corpos. "Os insetos do gênero Solenopsis sobrevivem semanas sobre a água", diz o biólogo Ricardo Solar, da Universidade Federal de Viçosa (MG). O bote permite a sobrevivência de grupos de até 7 mil formigas (incluindo a rainha e as larvas). Funciona porque elas têm um superpoder que repele a água e é tão eficiente que mesmo se você empurrar o bote para baixo ele volta à tona. (Clique para assistir ao vídeo da BBC).
 COMENTÁRIO:
Quando eu era pequena, o meu sonho era ter um formigueiro. Meus pais me deram um artificial, de um material acrílico, mas eu queria mesmo um de terra, pois era fascinada ( e ainda sou), pelo modo como as formigas se relacionam entre- si e com outros insetos. Por isso, gostei muito de ler essa reportagem, pois sempre descubro algo que não conhecia. Dessa vez, eu descobri que existem as supercolônias de formigas, que decidem melhor juntas do que sozinhas e que o macho é chamado de Bitu. Talvez, se pensássemos como as formigas, não haveria crianças abandonadas, famintas e desabrigados. Simples assim.