sexta-feira, 1 de novembro de 2013

4o Bimestre/ J.K. Rowling sobreviveu a Harry Potter.


J.K. Rowling sobreviveu a Harry Potter

A inglesa J.K. Rowling superou a síndrome do primeiro sucesso e lançou outros dois best-sellers. Para isso, estudou os mestres do romance popular

LUÍS ANTÔNIO GIRON
01/11/2013 07h31


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PRODUTIVA A inglesa J.K. Rowling em Nova York em 2012. Seu terceiro romance, O chamado do cuco, chega  consagrado ao Brasil  (Foto: Carlo Allegri/Reuters)
Quando o escritor cria uma personagem que conquista os leitores, pode cair na armadilha de se tornar conhecido apenas por isso. Foi impossível para Arthur Conan Doyle livrar-se de Sherlock Holmes. Tentou até assassiná-lo. Os leitores protestaram, e Doyle foi obrigado a ressuscitá-lo. Holmes hoje é mais famoso que Doyle. Talvez por isso, Ian Fleming nem tenha tentado escapar da criação depois que o agente secreto James Bond se tornou best-seller.

O obstáculo também parecia intransponível para a escritora inglesa J.K. Rowling. De 1997 a 2007, ela pôs de pé a saga de sete livros infantojuvenis do bruxo Harry Potter. Fez dele a personagem literária mais célebre do início do século XXI. Os livros de Harry Potter venderam 450 milhões de cópias e foram traduzidos para 73 idiomas. No cinema, suas aventuras viraram a série mais lucrativa de todos os tempos, com bilheteria de US$ 7 bilhões. Harry Potter reunia credenciais para confinar a posteridade de sua criadora – mesmo que ela tenha se tornado a primeira escritora bilionária da história.

No entanto, J.K. Rowling, de 48 anos, reuniu energia e recursos literários (e de marketing) suficientes para anular os feitiços de sua criatura e avançar para uma segunda encarnação literária. Em dois anos, publicou dois romances adultos de sucesso: a sátira Morte súbita, de 2012, e o policial O chamado do cuco (Rocco, 448 páginas, R$ 39,50), lançado em abril em países de língua inglesa e agora no Brasil.

Morte súbita narra a luta pelo poder num vilarejo inglês. Com sua galeria de tipos do interior, de meninos rebeldes a políticos ambiciosos, o livro bateu recordes ao vender 1 milhão de cópias em três semanas, só no Reino Unido. Virará série de televisão na BBC em 2014. A crítica se dividiu. A revista The Economist louvou a capacidade de Rowling em dar vida às personagens. Alguns críticos não gostaram. Michiko Kakutani, do jornal The New York Times, famosa pelo mau humor, achou o livro repleto de personagens repetitivos.
O chamado do cuco (Foto: Divulgação)
Para desconcertar críticos e leitores, Rowling assinou O chamado do cuco com o pseudônimo de Robert Galbraith. No começo do ano, enviou os originais a diversas editoras. O livro foi aceito pela Sphere Books e lançado em 23 de abril. Nas primeiras semanas, a tiragem de 1.500 cópias se esgotou. O nome da autora só foi desmascarado três meses depois, com a ajuda de um linguista da Universidade de Oxford, Peter Millican. Ele foi chamado porque havia suspeitas de que o livro era de um autor famoso. Millican examinou a repetição de termos simples em O chamado do cuco e nos livros de duas autoras policiais conhecidas. “Comparei sentenças e parágrafos, a frequência de palavras particulares e o padrão de pontuação”, disse Millican ao site BBC News. “O resultado dos testes apontou para J.K. Rowling, e não para as autoras policiais.” Com a revelação, Rowling assumiu a autoria, e o livro chegou aos primeiros lugares na lista do The New York Times, onde permanece até hoje. É uma recepção inteiramente diferente da que teveMorte súbita, por uma boa razão: O chamado do cuco obteve a consagração da crítica. Até a chatérrima Michiko Kakutani destacou a habilidade da romancista em criar uma dupla perfeita, o detetive Cormoran Strike e sua secretária Robin Ellacott: “Strike e Robin (ajudando o seu Batman, assim como Salander o seu Blomkvist) formaram um time – um time cujas aventuras o leitor mal pode esperar para ler”.
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A leitura é do tipo que vicia, uma história clássica de detetive. Strike é um ex-militar perneta de 35 anos. Ele emprega Robin, uma interiorana de 25 anos que se revela a parceira ideal de aventuras. A dupla investiga a morte da modelo Lula Landry, jogada da sacada de seu apartamento de luxo. Os suspeitos lutam com Strike e Robin até a resolução do enigma.
O livro serve como palheta do gênio de Rowling em armar narrativas empolgantes e criar personagens ao mesmo tempo interessantes e plausíveis. Sem a menor angústia da influência. Formada em letras, ela deu aulas de francês. Conhece muito bem a literatura, em especial a popular. Desde o início da carreira, analisou as obras de Charles Dickens, Alexandre Dumas e, para Harry Potter, C.S. Lewis, autor de As crônicas de Nárnia. Com Dickens, aprendeu a criar tipos patéticos e marcantes. Com Dumas, a segurar o leitor por ganchos de mistério nos finais de cada capítulo. C.S. Lewis ensinou-a a lidar com o universo fantástico.
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Para escrever O chamado do cuco, ela conta que se dedicou humildemente a estudar a estrutura dos policiais célebres de Agatha Christie, Conan Doyle e P.D. James. Aplicou ao livro a regra de ouro de P.D. James, segundo a qual a história de detetive tem por finalidade restabelecer a ordem no caos gerado por um crime. Rowling seguiu o método à risca, até ao inventar para si mesma um pseudônimo. Agatha Christie assinava Mary Westmacott para histórias românticas. Assim como seus antecessores no gênero, Rowling já confirmou que Strike e Robin, dupla digna de Sherlock Holmes e Doutor Watson, voltarão em breve. E certamente não ofuscarão sua criadora. Primeiro, porque sua imaginação parece não ter limites. Depois, porque, da galeria de personagens de J.K. Rowling, a mais inteligente e fascinante é ela própria.
As lições de J.K. Rowling (Foto: London Stereoscopic Company/Getty Images, General Photographic Agency/Getty Images, Central Press/Getty Images, John Chillingworth/Picture Post/Getty Images e  Ulf Andersen)



COMENTÁRIO: Eu gostei muito de ler essa reportagem, porque ficava imaginando se a autora de Harry Potter, ia continuar a escrever e, se, mesmo continuando, se ela ia fazer outro sucesso. E ela conseguiu. A autora escreveu um livro, com um nome falso, ou seja, um pseudômino, e as tiragens esgotaram. Só semanas depois do sucesso, a escritora revelou sua verdadeira identidade, provando que ela não iria ser autora de um livro só. O que eu gostei também, foi saber que ela se inspirou em outros autores para ser uma escritora melhor e de sucesso. Não são todas as pessoas que admitem terem sido influenciadas por outras. A imaginação de J.K. Rowling não tem limites e fico pensando o que mais pode sair da sua cabeçã. Espero que ela escreva ouma outra história com personagens tão encantadores e fascinantes como em Harry Potter.

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