sexta-feira, 5 de julho de 2013

Como se forma um cão-guia. 2o Bimestre.

Como se forma um cão-guia

Das 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil, apenas cerca de 80 têm ajuda de um cão-guia para se locomover

NATHALIA TAVOLIERI
04/07/2013 12h08 - Atualizado em 04/07/2013 12h14

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Cão-guia (Foto: Editora Globo)
O analista de sistemas Gabriel Vicalvi, de 27 anos, e Julia se conheceram no ano passado. Adaptar-se um ao outro não foi fácil. A cada dia, uma nova lição. Hoje, formam um time. Vicalvi faz parte do seleto grupo de cerca de 80 deficientes visuais, entre os 6,5 milhões espalhados pelo Brasil, que se locomovem com a ajuda de um cão-guia (assista ao vídeo abaixo).
Gabriel recebeu a notícia de que trocaria a bengala pela golden retriever Julia após "apenas" cinco anos de espera. Muitos dos 15 mil brasileiros que aguardam na fila dos poucos institutos especializados no treinamento desses cães não têm sequer previsão de quando vão receber um cachorro.
 No Brasil, a relação é de um cão-guia para cada 81.250 mil cegos. No Reino Unido, líder mundial com 4.600 cães-guia e média de 800 entregas por ano, essa proporção é de um cachorro para cada 438 deficientes visuais, segundo estimativas das principais organizações internacionais, a Assistance Dogs International e a International Guide Dog Federation. À falta de informação, de conscientização e de estímulos do governo na criação de centros especializados soma-se a complexidade do processo de treinamento desses cachorros – o que ajuda a explicar por que o Brasil tem esses números tão discrepantes entre pessoas com deficiência visual e cães-guia.
raio_x (Foto: Natália Durães)

Médicos sugerem desligar aparelhos que mantêm Nelson Mandela vivo. 2o Bimestre

Médicos sugerem desligar aparelhos que mantêm Nelson Mandela vivo

Segundo documento apresentado em processo judicial, Mandela está em "estado vegetativo". O governo sul-africano, no entanto, desmentiu a informação

REDAÇÃO ÉPOCA, COM AGÊNCIAS






Um documento divulgado nesta quinta-feira (4) diz que o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela está em estado vegetativo, e que a família cogitou desligar os aparelhos. O governo da África do Sul, entretanto, negou que Mandela esteja nessa situação. 
Segundo o documento, obtido pela agência AFP, a família de Mandela foi informada no dia 26 de junho que o ex-presidente estava em estado vegetativo e que respirava apenas com a ajuda de aparelhos. "A família Mandela foi aconselhada a desligar os aparelhos. Para não prolongar o sofrimento, a família considera essa opção como provável", diz o documento.
O documento é uma queixa judicial apresentada por quinze membros da família Mandela, entre eles a esposa Graça Machel e a filha mais velha Makaziwe, contra Mandla, um dos netos de Mandela.
A queixa é parte de uma disputa entre os familiares do ex-presidente. A disputa começou em 2011, quando Madla realocou os corpos de três filhos de Mandela. Eles estavam enterrados em Qunu e foram realocados para o vilarejo de Mveza. Segundo a família, o neto estava tentando interferir no local do enterro de Nelson Mandela, que pediu para ser enterrado em Qunu.
Quando Mandela voltou a ser internado, a disputa entre familiares e Madla piorou e, neste mês, a Justiça da África do Sul decidiu que os familiares estavam certos, ordenando a realocação dos três filhos de Mandela.
Governo desmente "estado vegetativo"
O ex-presidente sul-africano está hospitalizado há 27 dias. Nesta quinta-feira, o governo do país informou que o estado de Mandela segue crítico, mas estável. "Às vezes ele sente dor, mas está bem", disse Graça Machel.
Em nota divulgada na tarde desta quinta, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, desmentiu a informação de que Mandela está em estado vegetativo. "Madiba (nome pelo qual o ex-presidente é conhecido em seu país) segue em estado crítico, mas estável. Os médicos negam que o ex-presidente esteja em estado vegetativo", disse Zuma.

Makaziwe Mandela, filha do ex-presidente Nelson Mandela, em cerimônia fúnebre na casa da família. Após uma disputa na Justiça, os corpos de três filhos de Mandela foram enterrados novamente no vilarejo de Qunu (Foto: Schalk van Zuydam/AP)



COMENTÁRIO:

Fiquei triste em saber que Mandela estava com uma situação de saúde tão delicada. Mas também ele está bem velhinho. Para mim, Mandela é um exemplo de humildade e inteligência. Espero que ele não esteja em uma situação grave e que ele se recupere e fique bem. Vi um filme sobre ele, no ano passado, não lembro bem o nome, mas era a história real dos time de Rugby da Africa do Sul. A paz que Mandela espalhou foi incrível. Eu não conhecia a história de Nelson Mandela, mas depois desse filme eu fui pesquisar sobre a sua prisaõ e porque ele ficou preso tanto tempo. Claro que o motivo da prisão foi injusto e mesmo assim ele não se revoltou, não mudou seu comportamento. Desejo melhoras a Nelson Mandela.





Musa do #ocupacabral se revolta contra a PM. 2o Bimestre

Musa do #ocupacabral se revolta contra a PM

MARCELO SPERANDIO
  
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Luiza Dreyer (Foto: Divulgação/TV Globo)
Na madrugada da terça-feira, a Polícia Militar retirou os manifestantes que acampavam na esquina do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, no Leblon. Luiza Dreyer, musa do #ocupacabral e ex-participante do programa global The voice, conta a sua versão sobre a abordagem policial:
“Na segunda-feira à tarde, Zaqueu Teixeira, o secretário de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, foi até o acampamento e garantiu que ninguém nos tiraria de lá. Queria que a gente se reunisse com o Sérgio Cabral em 24 horas. Dissemos que iríamos nos reunir depois de dar uma coletiva de imprensa. Mas Zaqueu Teixeira alegou que não queria que nós falássemos para a imprensa a nossa pauta. Nós deixamos claro que a qualquer momento, após apresentar nossa pauta para a imprensa, poderíamos nos reunir com o Sérgio Cabral Filho. Desde o início, a OCUPACABRAL anunciou que queria a presença da imprensa e transmissão ao vivo da conversa com Sérgio Cabral. Não temos nada a esconder. Na segunda-feira à noite, começou uma chuva muito forte e ventania. Passamos a noite toda secando o asfalto, as barracas e preservando nossa comida e nossos pertences. Até que às 2h da madrugada de terça-feira, decidimos nos deitar para descansar, afinal, teríamos muito trabalho no dia seguinte. De repente, apareceram mais de 40 policiais da PM do BATALHÃO DO LEBLON, COMANDADA PELO LUIZ OTÁVIO LIMA. Eles chegaram gritando palavras de ordem e quebrando nossas barracas. Saíram metendo a mão em tudo. Eu pedi para que me dessem um tempo para eu organizar minhas coisas, mas eles estavam agitados e, pelo visto, tinham uma ordem superior para ‘fazer a limpa’. Quebraram o meu celular. Conseguiram sumir com a minha identidade e com o abaixo-assinado dos moradores do Leblon a favor da nossa manifestação. Destruíram livros (e vários que restaram foram confiscados por terem "cunho político"). Quebraram nossas barracas, inutilizaram nossos colchões, jogaram nossa comida doada pelos moradores do Leblon no esgoto. Arrastaram a barraca do meu amigo Jair Rodrigues COM ELE DENTRO. O comandante Luiz Otávio chegou gritando: ‘TIRA TUDO, É PRA TIRAR TUDO’. Os policiais obedeceram as ordens e amontoaram 10 barracas, cadeiras e caixas dentro de UMA PICAPE BRANCA. Depois de 10 dias de paz, debates abertos ao público e adesão de moradores, nós tivemos de passar por isso.”

COMENTÁRIO:

Eu estava achando muito divertida a ocupação dos manifestantes em frente a casa do Sergio Cabral. Ficava rindo, imaginando a cara dele toda vez que saía de casa. Depois que a polícia deu uma declaração que ia deixar os manifestantes em paz, de madrugada retiram as pessoas dali com desrespeito e violência. Que raiva! Por que tipo de pessoas somos governados? Espero que um dia tudo isso mude para podermos ser felizes de verdade.

Membros do Anonymous dizem receber visitas da PF após protestos. 2o Bimestre

Membros do Anonymous dizem receber visitas da PF após protestos

Segundo relatos, pelo menos oito pessoas receberam visitas da polícia; investigadores questionariam envolvimento com perfis em redes sociais

por Da Redação

Editora Globo
Reprodução do comunicado em vídeo do Anonymous
Pelo menos oito pessoas supostamente ligadas ao Anonymous Brasil receberam visitas da Polícia Federal em suas casas nas últimas semanas. Quem diz isso são os porta-vozes do grupo, que falam em “repressão política”.

Segundo os relatos, os policiais chegaram com um questionário perguntando sobre conhecidos e ligações com perfis específicos nas redes sociais. “As pessoas se sentiram oprimidas por questionarem o nível de ligação, amizade ou mesmo afiliação com o Anonymous”, disse o porta-voz.

A polícia também teria perguntado se os investigados teriam relação com alguns ataques que derrubaram ou modificaram a aparência de sites do governo nas últimas semanas. Segundo os relatos, os policiais questionaram se as pessoas “sabiam que isso era crime”.

Os policiais também perguntaram se as pessoas “trabalhavam com informática” e, no final, demonstraram saber a quem pertenciam as contas nas redes sociais.

O grupo divulgou um comunicado a manhã desta quinta-feira, 4, sobre o caso. “A Polícia Federal tem realizado visitas nos lares de alguns membros de nossas mídias sociais para interrogá-los sobre atuações e pensamentos na tentativa de intimidar e enfraquecer a nossa luta. Apenas pedimos liberdade de expressão”, diz o texto.

Os porta-vozes do grupo não revelaram as localidades de onde teriam acontecido as possíveis visitas dos policiais.

Procurada pela GALILEU, a Polícia Federal não se manifestou sobre o caso. 
 COMENTÁRIO:

Fico pensando se, além da corrupção, vamos viver também uma ditadura. Quero ser livre para pensar e para manifestar meus pensamentos e idéias para quem eu quiser e como quiser. Finalmente, alguém se organiza, para tentar mudar o país e é investigado? Quem tem que ser investigado e receber a visita da Polícia Federal são os políticos que desviam verbas e com isso, pessoas morrem nos hospitais e crianças deixam de estudar, não tendo a chance de melhorarem de vida. Que absurdo!

Água, tinta e um conta-gotas: Pura Arte! 2o Bimestre

Solto no espaço

Usando longa exposição fotográfica, um conta-gotas e corantes, a canadense Corrie White revela um mundo entre a psicodelia e paisagens alienígenas — é o projeto Liquid Drop Art, que registra gotas cuja delicadeza até as fazem passar por pinturas

por texto: Ana Freitas | fotos: Corrie White

Editora Globo
REGISTRO INVISÍVEL > “A perfeição me inspira. E nada se compara à perfeição da natureza — nela está o melhor do equilíbrio, da simetria, da beleza”, diz a fotógrafa canadense Corrie White. "A imagem de gotas d‘água é uma forma de macroarte na qual você pode moldar figuras feitas de líquidos, totalmente únicas", diz ao explicar sua paixão pela técnica, que começou há quatro anos. “É um tipo de arte que permite experimentar momentos e detalhes que geralmente são invisíveis ao olho humano”. Nesta página, a imagem The Weight (O Peso).
   Divulgação
AUTODIDATA > A ideia de fotografar macro surgiu durante uma caminhada na floresta, quando Corrie viu cogumelos que poderiam ser registrados utilizando uma lente especial. Em 2009, ela encontrou um site com fotos de gotas d'água e decidiu aprender a reproduzir o efeito sozinha, usando tutoriais na internet. “Quando comecei, não existiam muitos tutoriais e demorou semanas até que eu atingisse o resultado que queria”, lembra.
   Divulgação
TÉCNICA E TIMING > Muitas das fotos usam um simples conta-gotas de remédio e um ótimo senso de timing. Para outras, mais complexas, ela usa o Drip Kit, um equipamento feito especialmente para a produção de fotos do tipo, com o qual é possível controlar intensidade, tamanho, intervalo e quantidade das gotas. Algumas fotos são de efeitos difíceis de atingir e demandam mais experiência com a técnica, além de mais precisão na utilização do equipamento, como o exemplo da foto acima — chamada de Crown in a Bubble (Coroa numa Bolha), que usa acrílico e flash refletindo em uma folha de papel branco.
Editora Globo
FLORES DE ÁGUA > Flores são um tema recorrente e algumas dessas imagens aconteceram por acidente. Já My Daffodil (Meu Narciso, na foto ao lado) partiu do outro extremo. “Essa foi minha tentativa de criar uma escultura líquida que lembrasse um narciso", explica. Para criar estas flores, ela utiliza corantes e fotografa a queda das gotas por dois segundos, aumentando a exposição da fotografia.
Editora Globo
É FÁCIL > Além de corante para as gotas, ela também trabalha com líquidos, como água, leite, leite de amêndoas e creme e usa materiais como glicerina, xarope e açúcar. Parece complicado, mas a canadense diz que qualquer um com uma câmera com modo manual e um conta-gotas pode fazer fotos como as dela. Ela dá mais detalhes em seu recém-lançado livro, The Ultimate Guide to Water Drop Photography, que pode ser comprado em seu site (www.liquiddropart.com). 
COMENTÁRIO:
Quando eu vi a foto dessa reportagem, eu logo pensei que era um quadro pintado com tintas fluorescentes, mas a surpresa foi muito melhor. Uma artista canadense, usando água, tinta, um conta-gotas e uma máquina fotográfica foi capaz de realizar um trabalho lindo e muito delicado. As formas que a água faz na tinta lembra várias coisas: uma bailarina, uma nave espacial, uma cadeira, um guarda-chuva, animais e o que a sua imaginação permitir descobrir. Lindo demais!

A microbiologia invade a cozinha. 2o Bimestre

A microbiologia invade a cozinha

Carnes quase podres, peixes fermentados por meses e uvas contaminadas. Entenda como fungos e bactérias podem reinventar a gastronomia

por Rafael Tonon

Editora Globo
Em um laboratório flutuante sobre um canal de Copenhague, na Dinamarca, fungos e bactérias são usados em experimentos para maturar e fermentar alimentos.

As amostras ficam separadas por categorias: algas envelhecidas, vinagres de toda sorte de ervas e carnes quase em processo de putrefação. Ali, trabalham botânicos e zoologistas. Mas quem comanda são chefs de cozinha. O Nordic Food Lab (Laboratório de Comida Nórdica), fundado em 2010 por Rene Redzepi e Claus Meyer, proprietários do Noma — restaurante em Copenhague que de 2010 a 2012 foi o número um no ranking da Restaurant, prestigiada revista inglesa do ramo —, é um dos representantes de uma tendência da culinária de luxo: a microbiologia. “Somos cozinheiros obstinados, com metodologia científica”, afirma Ben Reade, chefe do Nordic Food Lab.
Editora Globo
Depois da gastronomia molecular — que usa a química para modificar a textura e apresentação dos alimentos e que lançou para o mundo nomes como o do catalão Ferrán Adriá, do restaurante El Bulli —, os fungos e bactérias são agora foco de chefs de renome.

Além de Rene Redzep, os premiados Chris Ford, do Rogue 24 (Washington DC), e David Chang, do Momofuku Säam Bar (Nova York) — que integra a lista dos 50 melhores do mundo pela Restaurant —, criaram seus próprios laboratórios de experimentos.

A ousadia vai longe: de carnes que permanecem cruas em refrigeradores por mais de 100 dias a legumes enterrados por meses. Sem contar as parcerias com cientistas de universidades como Harvard e Sudeste Dinamarca. Os resultados viram pratos vendidos a não menos de US$ 40. Conheça a seguir o maravilhoso mundo dos micróbios na cozinha.
TEM ALGO DE PODRE AÍ
Não adianta torcer o nariz. Há séculos consumimos alimentos em que fungos e bactérias são essenciais na formação do sabor, como vinhos, pães, cervejas e carnes secas. Algo que a humanidade aprendeu a fazer empiricamente. “O que sabemos até hoje sobre o papel desses micro-organismos na alimentação é só a ponta do iceberg. Tem muito para vir à tona”, afirma Herold McGee, autor do livro The Art of Fermentation (A Arte da Fermentação, sem edição no Brasil).

O controle de quanto tempo um produto dura até apodrecer e qual a melhor fase para consumi-lo tem interessado os pesquisadores do Nordic Food Lab. Eles estudam processos de maturação e cura de carnes, comuns na Escandinávia. “Nossa região é conhecida por sua charcuteria [técnica para fabricação de embutidos]. Mas usa-se muita defumação e salga, o que altera o paladar”, diz Ben Reade, chefe do laboratório.

A saída foi importar fungos utilizados nas ilhas do Atlântico Norte para conservar carnes. “Trabalhamos para identificar as espécies e de que forma agem criando uma camada externa que protege o alimento, mantendo sua maciez e gosto.”

A atuação dos fungos na produção de vinhos locais também já foi investigada. Amostras de uvas com Botryotinia fuckeliana foram levadas para o laboratório a fim de entender como esses micro-organismos contribuíam para o sabor do vinho doce feito com elas. Depois de análises microscópicas realizadas pelos botânicos do grupo, concluiu-se que o fungo produz furos microscópicos na casca da uva, fazendo com que se desidrate, concentrando mais açúcar. A ideia agora é colocar o Botryotinia fuckeliana para atuar em frutas silvestres — como cerejas e mirtilos — para acentuar sua doçura. “Um mundo fantástico vai se abrir à medida que entendermos como micro-organismos transformam sabores”, diz Reade. “Isso demanda abordagem científica, o que tem tomado a gastronomia.”
.Editora Globo
A GOSTO: Reade, do Nordic Food Lab, que investiga maturação de carnes e fermentação de frutas, por exemplo

TERRITÓRIO DOS MICRÓBIOS 
Até 2015, os microbiologistas Rachel Dutton, Benjamin Wolfe e Julie Button, da Universidade Harvard, pretendem sequenciar o DNA de micro-organismos encontrados em 160 diferentes cascas de queijos — como Cheddar, Stichelton, Saint Maure e Corsu Vecchiu — para descobrir quais os melhores fungos para a produção de cada um e, quem sabe, chegar a novas receitas.

A tecnologia usada é de última geração: uma máquina de sequenciamento genético age como um scanner lendo os dados do DNA e os salvando num HD. “Assim conseguiremos analisar a diversidade microbiológica de centenas de alimentos fermentados ao redor do mundo por uma fração dos custos do que era há cinco anos”, afirma Wolfe.

Pouco tempo depois do anúncio da pesquisa — iniciada em 2010 como a primeira de padrão global a investigar a interação entre micróbios e comida —, os cientistas passaram a receber no laboratório pacotes com grãos e pães, enviados por chefs e cozinheiros, para serem analisados. Jim Lahey, mestre padeiro da Sullivan Street Bakery, em Nova York, foi um dos que tentaram ajuda para replicar nos EUA um pão que tinha provado na Toscana.

Mas quem emplacou um projeto em parceria com os cientistas foi o americano de origem coreana David Chang. Em seu Momofuko Säam Bar, Chang havia tentado fazer um lombo de porco defumado com a mesma técnica do kastsuobushi, tradicional prato japonês em que o bonito (tipo de atum) é fervido, defumado e colocado numa solução com Aspergillus glaucus — espécie de fungo muito usada na cozinha nipônica. Depois, é deixado em descanso para fermentar por cerca de dois meses. Passado o período, ainda é submetido a um extenso processo de envelhecimento e secagem, que inclui exposição ao sol e pulverização de Aspergillus glaucus — esses micro-organismos drenam umidade. O resultado são lascas bem duras e crocantes de peixe de sabor concentrado.

Ao tentar reproduzir a receita com a carne de porco, o resultado ficou bem longe do esperado. “Vimos o quão ignorantes éramos nos processos de microbiologia aplicada à comida”, afirma Daniel Felder, chefe de pesquisa e desenvolvimento do Momofuko Culinary Lab, a moderna cozinha-laboratório que Chang criou nas redondezas de seu restaurante.

Amostras da carne desidratada e “contaminada” com Aspergillus glaucus foram, então, enviadas para o Centro para Sistemas de Biologia de Harvard. Lá, os cientistas mapearam geneticamente os micro-organismos que estavam na carne para descobrir do que se tratavam: o DNA deles era dividido em milhões de partículas lidas por máquinas. Depois, um algoritmo de montagem de genoma colocava tudo na ordem original de volta. Os resultados mostraram que um tipo de fungo disperso pelo ambiente do laboratório do Momofuku atuava no ingrediente, impedindo que o micróbio usado no peixe no Japão tivesse o mesmo efeito em Nova York.

Os pesquisadores, então, chegaram a outro fungo capaz de produzir o sabor esperado: o Aspergillus orzyae. O resultado foi divulgado no International Journal of Gastronomy and Food Science, publicação para disseminação de artigos científicos de chefs e pesquisadores da gastronomia lançada no ano passado.

Mas uma das maiores conclusões dos cientistas com o experimento é de que existe uma espécie de “terroir microbiano”. Assim como os minerais e seres vivos invisíveis a olho nu em uma terra influenciam o sabor dos alimentos plantados nela, os micro-organismos no ambiente interferem no gosto de um ingrediente processado ali. A revelação abriu um novo precedente para a gastronomia: aproveitar a ação de micro-organismos locais para criar os já tão valorizados sabores nativos, impossíveis de serem reproduzidos em outros cantos do mundo. A carne de porco defumada no Momofuku seria um deles. Mas há chefs que preferem importar sabores tradicionais e reinventá-los em novas combinações.
DE LONGE 

Editora Globo
COZINHA GEEK: Daniel Felder, chefe de pesquisa do laboratório anexo ao badalado restaurante Momofuko, de Nova York
Em abril, o chef Andoni Luis Aduriz abriu as portas para a temporada de 2013 de seu restaurante Mugaritz, em Errentería, no País Basco. A casa havia ficado fechada por três meses, tempo em que o chef se dedicou a pesquisas em sua cozinha experimental e nos laboratórios do AZTI-Tecnalia, centro basco de estudos relacionados à alimentação e ao ecossistema marinho, do qual é um dos integrantes.

Como resultado das experiências, um prato que entrou no menu da casa foi a Mecha de alga pelo, uma espécie de bactéria marinha que realiza fotossíntese (o que a leva a ser confundida e popularmente chamada de alga) servida com pasta de azeitonas.

Anduriz experimentou o ingrediente em uma sopa durante uma viagem à China. Conhecida por lá como Fat Choy, essa bactéria — usada na gastronomia chinesa e vietnamita como vegetal — tem aparência de um cabelo liso e preto. Instigado, o chef encontrou um distribuidor da iguaria em Paris e encomendou uma quantidade para fazer alguns experimentos. Primeiro testou cozinhá-la e desidratá-la para ressaltar seu aspecto de pelo, mas as fibras se desfaziam.

Para encontrar a melhor maneira de preparar o que até então Aduriz acreditava ser uma alga, o chef pediu para que os botânicos e biólogos que trabalham em seu próprio restaurante e no laboratório Azti tentassem identificá-lo. O material foi categorizado como Nostoc flagelliforme, uma cianobactéria (bactéria que faz fotossíntese) autônoma que se agrupa em colônias. Diante da nova informação, foi possível desidratar o ingrediente e fritá-lo em baixa temperatura e a vácuo, sem queimá-lo, como estava acontecendo antes (em viagem à Espanha, o repórter teve oportunidade de provar o prato e achou uma delícia).
SABOR NACIONAL 
No Brasil, a microbiologia aplicada à cozinha ainda é feita de maneira mais empírica e pouco científica. Mas, em breve, isso pode mudar. No segundo semestre de 2013, os chefs e irmãos Thiago e Felipe Castanho, dos restaurantes Remanso do Bosque e Remanso do Peixe, em Belém do Pará, devem abrir um laboratório onde irão testar processos de maturação e fermentação de ingredientes tomando como base os conhecimentos culinários tradicionais da região. “A fermentação surgiu como um processo de conservação, depois foi ficando marcada na memória genética e gustativa das pessoas”, afirma Thiago, que mantém parcerias com a Embrapa para estudar ingredientes locais e seus processos de fermentação e maturação.

Em seus restaurantes, os chefs já usam o fruto da pupunha fermentado para fazer cerveja e vinagre inspirados na caiçuma, bebida alcoólica preparada com palmito por índios da região. Agora, pretendem estudar pratos como a puba (massa da mandioca fermentada), o aluá (tipo de refrigerante feito a partir da fermentação do milho) e tarubá (bebida feita com a raiz da mandioca). A ideia é valorizar o “terroir microbiano” da Amazônia. “Estamos pesquisando esses processos para resgatar essas receitas e desenvolver novas”, diz Thiago.

Quando aberto, o laboratório dos irmãos Castanho será mais uma demonstração de como fungos e bactérias podem ser usados para reinventar a gastronomia, o que já vem sendo mostrado em alguns dos mais estrelados restaurantes internacionais. “Chefs estão sempre buscando novas formas de criar sabores. E os micróbios os têm produzido em diversas comidas há centenas de anos, alheios a nosso conhecimento sobre eles”, afirma Wolfe, de Harvard. “Agora nós, cientistas, vamos ajudar a usar esses micro-organismos como ingredientes imprescindíveis das receitas que queremos ver nos grandes restaurantes.” Ver e, claro, comer.
COMENTÁRIO:
Eu sei que existem pessoas que gostam de comer certas comidas com fungos, como queijos, mas eu não gosto. Tem um gosto muito enjoativo. Assisti um programa, um dia, no Discovery Chanel, que mostrava chefes de cozinha, preparando só comidas com vários tipos de fungos. Muito estranho! A cor até que fica bonita, mas e o gosto? Eu não estava lá para provar. Sei, que alguns fungos são bons pra saúde, mas daí a comê-los feliz é outra coisa. 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Pesquisadores sequenciam o genoma de fóssil de cavalo de 700 mil anos. 2o Bimestre.

Pesquisadores sequenciam o genoma de fóssil de cavalo de 700 mil anos

É o sequenciamento de DNA de fóssil mais antigo já feito; pesquisadores dizem que abriram uma porta que pensaram estar fechada antes

por Murilo Roncolato

Editora Globo
Cavalos selvagens (Foto: Wikimedia Commons)
Uma equipe de biólogos da Universidade de Copenhagem determinou o genoma (sequência de DNA) de um cavalo de 700 mil anos. É o mais antigo do mundo - até então o recorde pertencia ao sequenciamento de um urso polar de 110 mil anos.
“Abrimos uma porta que pensamos estar fechada antes. Tudo agora depende do progresso tecnológico, mas temos um monte de argumentos para acreditar que o futuro nos levará ao tesouro, e não a um beco sem saída”, disse o pesquisador Ludovic Orlando. 
A façanha só foi possível porque o pedaço de osso fossilizado analisado foi mantido em “segurança” sob uma camada grossa de gelo, no Canadá, em uma região próxima à fronteira com o Alasca. Assim, o DNA se manteve preservado em porções de colágeno, proteína presente no osso. Com o feito, os pesquisadores se animam com a possibilidade de ir ainda mais longe e sequenciar genomas de espécies com até 1 milhão de anos.

O trabalho dos biólogos Eske Willerslev e Ludovic Orlando é focado em decifrar DNAs de espécies animais preservadas pelo gelo, além de se ocuparem de investigações sobre o empobrecimento da diversidade animal após a última era glacial. A possibilidade de identificar genomas de ancestrais humanos como o Homo erectus, que viveu entre 1,3 milhão e 300 mil anos atrás, existe, mas as chances de encontrar fósseis contendo DNA não-danificado é pequena. Isso porque as regiões mais extremas dos continentes, onde é mais frio, foram alcançadas apenas por grupos mais recentes. Em regiões mais quentes, o DNA tem vida média de 20 mil anos. O genoma ancestral mais antigo já sequenciado é o do fóssil do hominídeo de Denisova, encontrado em caverna da Sibéria, com idade próxima a 40 mil anos.

“Em condições muito frias, cerca de 10% de pequenas partes das moléculas tem uma chance boa de sobreviverem por um milhão de anos”, disse Orlando à AFP.

O genoma do cavalo de 700 mil anos foi comparado com o de um parente seu de 43 mil anos e com o de cavalos e zebras modernos. “Nossas análises sugerem que a linhagem Equus que deu origem a todos os cavalos contemporâneos, zebras e burros tiveram origem entre 4 e 4,5 milhões de anos atrás, o dobro do tempo convencionalmente aceito”, diz o estudo.

“Abrimos uma porta que pensamos estar fechada antes. Tudo agora depende do progresso tecnológico, mas temos um monte de argumentos para acreditar que o futuro nos levará ao tesouro, e não a um beco sem saída.”

O artigo foi publicado pela revista Nature neste mês. 


COMENTÁRIO:

Uma das coisas que eu mais gosto de pesquisar é a descoberta de novos fósseis pelo mundo. Estudando os fósseis, podemos descobrir  mais sobre o planeta, nossa origem e os animais que existem hoje em dia. Mas eu não sabia que o ancestral do cavalo viveu há tantos milhares de anos. Até então, o fóssil mais antigo estudado era de 110 mil anos e agora com esse, o mais antigo é de 700 mil anos! Com isso foi descoberto que a linhagem Equus, que deu origem a todos os cavalos contemporâneos, zebras e burros teve início entre 4 e 4,5 milhões de anos. Foi bom saber que o cavalo é bem antigo. 

Jogadores de videogame vêem o mundo de forma diferente. 2o Bimestre

Jogadores de videogame vêem o mundo de forma diferente

Pesquisa revela que gamers têm o cérebro 'treinado' para entender e usar informações visuais de forma mais rápida e eficiente

por Redação Galileu

Editora Globo
Jogadores de League of Legends competindo na edição 2013 do Intel Extreme Masters - Electronic Sports World Cup // Crédito: Shutterstock 
Pesquisadores da Duke University (EUA) publicaram um estudo que promete ser o terror das mães que tentam desgrudar os filhos do videogame. Segundo a pesquisa, indivíduos com o hábito de jogar têm respostas cerebrais melhores e mais rápidas a quaisquer estímulos visuais.

Para os estudiosos, as nuances e a necessidade de reação durante o jogo aumentam a capacidade de extrair informações das cenas e episódios do dia a dia, como se os jogadores vissem o mundo de uma forma diferente.

Para se chegar a esses conclusões foram escolhidos 125 estudantes entre jogadores frequentes e aqueles que não tinham esse costume, que passaram posteriormente por testes de reação. A prova constituía em juntar os resultados de dois flashes de luz, o primeiro com uma sequência de oito letras e outro com um círculo que indicava a posição de uma das letras que acabaram de desaparecer. Em todos os resultados analisados, os jogadores frequentes tiveram um melhor desempenho.

A diferença indica que o grupo vencedor tem maior capacidade de perceber detalhes mais rapidamente e utilizar essa nova informação para decisões mais corretas. Para garantir que essas sejam as causas reais da superioridade dos gamers, os estudiosos analisarão mais a fundo a atividade cerebral para ver de que forma a mente deles foi treinada para atingir melhores resultados.
COMENTÁRIO:
Eu sabia que ser gamer ia ser muito bom para mim e que um dia meus pais iriam ter a prova de que o videogame não é esse vilão que todos pensam. De acordo com a reportagem quem joga videogame tem um raciocínio mais rápido e consegue criar soluções mais aceleradas e melhores para problemas. É o que eu sempre disse em casa, que o videogame me ajuda pensar e nunca acreditaram em  mim. Puro preconceito.

Nitrogênio em piscina provoca tragédia. 2o Bimestre

Nitrogênio em piscina provoca tragédia

Ação publicitária de marca de bebidas deixa um jovem hospitalizado; reação provocou falta de oxigênio

por Murilo Roncolato

Editora Globo
Ação publicitária terminou em tragédia (foto: reprodução)
O que era para ser apenas uma ação de marketing para chamar atenção se transformou em tragédia. Em Leon, uma cidade no interior do México, durante uma festa organizada pela marca de bebida alcoólica alemã Jagermeister, oito jovens foram hospitalizados e um entrou em coma após os organizadores jogarem quatro barris de nitrogênio líquido na piscina, a fim de causar efeito de névoa.

O jovem que ainda se encontra em coma é José Ignacio López del Toro, de 21 anos, sobrinho do cineasta mexicano Guillermo del Toro.

No momento em que os barris são jogados, uma nuvem branca cobre todos que estavam na piscina, a uma altura de quase um metro. Em segundos, aqueles que estavam nadando começam a passar mal e muitos desmaiam. Ao perceberem, os colegas que ficaram do lado de fora fazem o socorro.

A “sacada” de marketing remetia ao drinks preparados com nitrogênio líquido misturados, comumente, ao Jagermeister. Em outubro do ano passado, a britânica Gaby Scanlon, de 18 anos, teve o estômago perfurado (e retirado após cirurgia) depois de tomar dois “Nitro Jagermeister” em uma boate em Lancaster, no noroeste do país.
Após Após o caso, muitas teorias sobre o que teria acontecido com os jovens surgiram, inclusive a sugestão de que o nitrogênio teria reagido com o cloro e formado tricloreto de nitrogênio, substância tóxico utilizada em bombas de gás lacrimogêneo. A hipótese é descartada pelo professor do Departamento de Química da Universidade de São Paulo, Paulo Sérgio Santos.

Ele explica que o nitrogênio é um gás muito pouco reativo e sua ligação com o cloro é difícil de se fazer até em laboratórios. “A reação forma um gás altamente explosivo. Dos primeiros quimicos que tentaram fazer essa reação um perdeu a vista e o outro perdeu a mão. Em condições normais, são quimicamente inertes, ou seja, não há reação.”

Segundo Santos, a explicação mais viável é também a mais simples. O nitrogênio líquido para se manter neste estado é fechado em reservatórios isolados que o mantém a uma temperatura de 200 graus Celsius negativo. Por isso, é usado para a conservação de sêmen em inseminação articial e por chefs na cozinha, para se fazer sorvete, por exemplo.

Quando aberto o recipiente, o nitrogênio começa imediatamente a evaporar (seu ponto de ebulição é -196°C), daí o efeito de “névoa”. “Em contato com a água da piscina, que provavelmente estava em torno de 20 graus, o nitrogênio evaporou e se expandiu com violência e, como estava em grande quantidade, expulsou todo o oxigênio do local, causando asfixia”, explica o professor.

O nitrogênio não é considerado tóxico, apenas um gás “asfixiante”. O efeito, explica, é o mesmo que se colocar uma pessoa em um ambiente totalmente fechado, em algum momento ela vai consumir todo o oxigênio presente no ar. “Seria o mesmo que não respirar, se ela respirar (no caso da festa na piscina) ela vai respirar apenas nitrogênio.” A ausência de oxigênio no sangue por não muito mais que um minuto, em média, pode gerar problemas graves.

Em contato com a pele, o nitrogênio líquido pode provocar graves queimaduras em razão da sua baixíssima temperatura. “Imagine cobrir o braço de alguém com um líquido a 200 graus negativos. Isso geraria uma contração violenta dos vasos sanguíneos”, diz Santos, o que explica as queimaduras no estômago da britânica após ingerir a substância. E faz um alerta: “O nitrogênio líquido não é uma substância que possa ser manipulada por uma pessoa não treinada”.

Para ele, uma alternativa que produziria o mesmo efeito, sem gerar os mesmos danos e que poderia ser manejada por pessoas sem qualificação é o gelo seco, formado por gás carbônico resfriado a -78°C. “Como está em estado sólido, ele vai sublimar (mudança direta do estado sólido para gasoso) e isso é um processo mais lento e menos abrupto.”
COMENTÁRIO:
Eu não sou nenhuma cientista, mas sei que nitrogênio é bem gelado. Então é estranho que joguem tanto nitrogênio em uma piscina e achem que vai ficar tudo bem. Muita irresponsabilidade. Poderiam ter jogado gelo seco, não?

A verdadeira Guerra dos Tronos. 2o Bimestre

A verdadeira Guerra dos Tronos

Blogueira e historiadora discute possíveis inspirações de George R.R. Martin

por Luciana Galastri

Editora Globo
Eduardo IV, o Robb Stark 'da vida real' // Crédito: Wikimedia Commons
Jamie Adair, historiadora canadense e blogueira, conheceu a obra de George R.R. Martin “Uma canção de gelo e fogo” como boa parte dos brasileiros: depois que a série Game of Thrones estreou na TV. Depois da primeira temporada, ela já estava completamente apaixonada pela narrativa e passou a ler todos os livros. Mas o motivo dessa identificação é um pouco maior do que uma atração pelo gênero de fantasia medieval: segundo Jamie, a história de Martin é inspirada em eventos históricos reais, principalmente na chamada “Guerra das Rosas”.

A “Guerra das Rosas” é uma série de conflitos pelo trono da Inglaterra de 1455 até 1485. Duas famílias, os Lencasters (com o brasão da rosa vermelha) e os Yorks (que ostentavam a marca da rosa branca), disputavam o lugar mais alto no conselho real, enquanto o rei de direito, Henrique VI, ainda era muito jovem para governar.

Jamie diz ter percebido pontos em comum entre a Guerra das Rosas com a Guerra dos Tronos antes da série começar, só de ver as chamadas do programa na TV. Ao ver a saga e perceber que as similaridades aumentavam, ela criou o blog “History behind the Game of Thrones” (A história por trás da Guerra dos Tronos, em tradução livre). Lá ela reúne suas teorias sobre eventos históricos que podem ter inspirado Martin. “Eu adoro a série e a Guerra das Rosas e então pensei ‘por que não’? Assim quem acessa meu blog pode aprender algo e se apaixonar tanto por estes assuntos quanto eu”, conta.

Se o nome das famílias “Lencaster” e “York” já não foi similar o suficiente com “Lannister” e “Stark”, confira os principais pontos da teoria de Jamie (avisamos: existem spoilers para quem não leu todos os cinco livros):

“Acredito que ‘A canção de gelo e fogo’ e´altamente inspirada na vida de Eduardo IV, incluindo a forma com que ele chegou ao trono, o conflito causado por seu casamento, o conflito de 1470 com seu irmão e a forma com que o trono dele foi tomado por Ricardo III em 1483". Jamie exemplifica:

- Da mesma forma que Robb Stark, Eduardo era muito jovem (18 anos) quando seu pai, Ricardo de York, entrou em conflito com um inimigo que acreditava não ser justo. Assim como Ned Stark, Ricardo de York foi morto de uma forma humilhante - seus carrascos penduraram sua cabeça em uma lança e colocaram uma coroa de papel nela. Procurando vingança, mais do que o trono, Eduardo buscou destronar o Rei, como Robb. Mas, ao contrário de Robb, ele consegue seu objetivo.

- Robb também age como Eduardo quando casa com Jeyne Westerling (Talisa Maegyr na série de TV) e quebra sua promessa de casar com uma filha de Walder Frey. Eduardo desmanchou seu noivado com a cunhada de um rei francês, Luis XI, chamada Bona de Savoy, para casar com Elizabeth Woodville. Isso obrigou seu primo, que havia arranjado o noivado com os franceses, a pedir desculpas oficialmente. Consequentemente, esse primo chamado Warwick ficou revoltado com Eduardo por ter sido humilhado e o traiu (como Walder Frey faz com Robb) causando uma guerra civil em 1469. Eduardo não perdeu a cabeça como Robb, mas, por quebrar a sua promessa e casar com a ‘noiva errada’, perdeu a coroa (e ganhou o trono novamente em 1471).

- Martin também cria dois conflitos entre três irmãos que podem ser inspirados na relação de Eduardo com seus irmãos. O caso mais parecido é o de Robert, Stannis e Renly Baratheon, mas relações também podem ser traçadas entre Robb Stark, Jon Snow e Theon Greyjoy - apesar de Jon ser um bastardo e Theon ser de outra família, os três são criados como irmãos.

Na história real, entre os irmãos Eduardo IV, Ricardo III e George, o Duque de Clarence, houve guerra, ódio e assassinato. Theon trai Robb por causa de seu pai biológico, Balon Greyjoy. Da mesma forma, George traiu Eduardo por uma figura que considerava seu pai - seu primo Warwick que, assim como os Greyjoy, era um ‘homem do mar’, acusado até de pirataria. Eventualmente, Eduardo perdoou Clarence, mas, depois de alguns anos, eles começaram a se desentender novamente por razões misteriosas. O Rei então ordenou a morte de seu irmão - o que, provavelmente, o destruiu emocionalmente.

Depois desse episódio, Eduardo passa a se comportar como Robert Baratheon - exagerando na comida, na bebida e no sexo com prostitutas. Eduardo morre depois de comer muito em uma pescaria. Robert morre depois de beber muito em uma caçada.
Editora Globo
Henrique VII - Daenerys? // Crédito: Wikimedia Commons
Com a morte de Eduardo, da mesma forma que acontece depois da morte de Robert, não se sabe quem irá assumir o trono. Ricardo III então fica com a guarda dos filhos de Eduardo e os tranca em uma torre. Depois afirma que nenhum deles era filho legítimo de Eduardo (assim como Jon Arryn e Ned Stark descobrem que os herdeiros do trono são 100% Lannister). Os “príncipes da Torre”, como foram chamados, sumiram misteriosamente e suspeita-se que Ricardo tenha os matado.

Esse evento fez com que Henrique Tudor (que depois se tornaria Henrique VII) invadisse a Inglaterra usando um exército que contratou (como Daenerys?).

- O Casamento Vermelho, que chocou tanta gente, teria sido inspirado por Heworth Moor. A família Neville, um dos maiores clãs da Inglaterra, voltava de uma celebração de um casamento com um grande contingente. A noiva, no entanto, era filha de um lorde que havia recebido terras do rei pertencentes a outra grande família do norte, os Percy. Os Percy contrataram homens e se prepararam para fazer uma emboscada e atacar toda a comitiva. No entanto, ao verem a guarda dos Neville, preferiram fazer um acordo - ao contrário dos Frey, que mataram todos os homens dos Stark. Outras inspirações são o Jantar Negro da Escócia e o Massacre Glencoe.
Além da Guerra das Rosas
- Os Sete Reinos de Westeros podem ter sido inspirados na Heptarquia da Inglaterra.

- A Muralha pode ter sido inspirada pela Parede de Hadrian, uma estrutura defensiva erguida no meio da Inglaterra durante o período de 100 d.C. Isso casaria com um possível confronto entre o “Povo Livre” (wildlings) e o reino ‘do Sul’.

- A quantidade exagerada de gelo “ao norte da Muralha”, pode ser uma referência à Escócia. Escoceses eram considerados um grande problema durante a Guerra das Rosas, invadindo territórios que não pertenciam a eles, como o Povo Livre na história de Martin. Houve um período de frio intenso nessa época que não pode ser descrito como o grande inverno dos livros, mas que foi chamado de “Pequena Era do Gelo”.

- A tensão entre os Velhos Deuses e os Novos Deuses dos reinos de Martin também podem ser comparados com a tensão entre os pagãos e os cristãos nesse período da Inglaterra.

Possíveis spoilers para quem não leu o livro: 

Perguntamos à Jamie qual é a sua teoria, baseada na história, sobre quem irá vencer a Guerra dos Tronos. “Eu tenho até medo de chutar, já que o George Martin adora reviravoltas em sua trama. Mas eu acredito que a Daenerys irá conseguir o Trono de Ferro e que, de alguma forma, ela vai acabar casando com o Jon Snow. Então eles governariam juntos. Acho que a Daenerys tem muitos elementos do Rei Arthur das lendas e, ao mesmo tempo, é inspirada em Henrique VII”, revela.
COMENTÁRIO:
Nunca desconfiei que "Guerra dos Tronos" era bem baseado um uma história real. Um pouco complicada de entender, mas que aconteceu de verdade. Gosto de assistir filmes que falam sobre a história da Inglaterra, como "A outra", "Lady Jane" e documentários que falam sobre a Torre de Londres, mas sei que são histórias que aconteceram, mas essa história do Rei Eduardo ser o  Robb Stark é muito legal, pois agora, vou assistir Guerra dos Tronos prestando mais atenção. Decidi que vou ler os livros também.